quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sigur Ros - Svefn-G-Englar

Documentário - Vinicius de Moraes

A montagem de um pocket show em homenagem a Vinícius de Moraes por dois atores (Camila Morgado e Ricardo Blat) é o ponto de partida para reconstituição de sua tragetória. O documentário mostra a vida, a obra, a família, os amigos, os amores de Vinícius de Moraes, autor de centenas de poesias e letras de música. A essência criativa do artista e filósofo do cotidiano e as transformações do Rio de Janeiro através de raras imagens de arquivo, entrevistas e interpretações de muitos de seus clássicos.

Vinicius de Moraes - 3 poemas

A morte

(Rio de Janeiro)

A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.


Canção

Não leves nunca de mim
A filha que tu me deste
A doce, úmida, tranqüila
Filhinha que tu me deste
Deixe-a, que bem me persiga
Seu balbucio celeste.
Não leves; deixa-a comigo
Que bem me persiga, a fim
De que eu não queira comigo
A primogênita em mim
A fria, seca, encruada
Filha que a morte me deu
Que vive dessedentada
Do leite que não é seu
E que de noite me chama
Com a voz mais triste que há
E pra dizer que me ama
E pra chamar-me de pai.
Não deixes nunca partir
A filha que tu me deste
A fim de que eu não prefira
A outra, que é mais agreste
Mas que não parte de mim.


Paisagem

Subi a alta colina
Para encontrar a tarde
Entre os rios cativos
A sombra sepultava o silêncio.

Assim entrei no pensamento
Da morte minha amiga
Ao pé da grande montanha
Do outro lado do poente.

Como tudo nesse momento
Me pareceu plácido e sem memória
Foi quando de repente uma menina
De vermelho surgiu no vale correndo, correndo…

Vinicius de Moraes

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nova Ponte em Florianópolis

Não precisamos de mais uma ponte em Florianópolis. Precisamos investir em cultura, por exemplo, melhorar o CIC (Centro Integrado de Cultura), que ántes era lotado durante a semana, com espetáculos de teatro, música, cinema, no café Matisse.

Além do CIC, incentivar a criação de mais polos culturais na cidade, para deslocar o Trânsito para outras zonas da cidade, e não gerar concentração no centro da cidade. Por que os administradores dessa cidade não pensam dessa forma?

Teatro dia a dia

O mundo do teatro é realmente incrivel. As descobertas nos textos, nos exercícios práticos. Dia a dia, há um crescimento poro a poro, olhar a olhar. Coisas mágicas vão acontecendo.

Only A Pawn In Their Game - Bob Dylan

Tirésias, sob um outro olhar - Solange Rebuzzi

Observações sobre Édipo e Antígona a partir de Hölderlin

1.

Conta a lenda grega que Tirésias foi ao longo da vida por ação dos deuses, sucessivamente, homem, mulher e homem outra vez. Posteriormente, novamente por ação divina, perdeu a visão. Em contrapartida, ganhou a possibilidade de adivinhar o (tempo) futuro como se fora uma outra forma de ver. Assim monta-se, de imediato, na cena de uma impossibilidade, uma outra cena; a de uma (im)possibilidade que carrega em si mesma um possível.

2.

Na tragédia Édipo Rei escrita por Sófocles, Tirésias se apresenta com alguma subjetividade. “Detentor da verdade divina, (ele) não perde a sua qualidade humana que se reflete no próprio modo como a verdade é transmitida ao rei” [2]. A tensão do diálogo do adivinho com Édipo, no qual ele vai revelando suas profecias aparece, portanto, carregada de irritação.

Rememoramos: durante a ação da tragédia (Édipo Rei), o rei procura ouvir algo que lhe esclareça porque o adivinho se fechara em silêncio, logo após o seu pedido de alcançar conhecimento. O adivinho, hoje reconhecido como aquele “que é simultaneamente um homem e um ser intermediário, que se situa, apenas em certos momentos, entre o mundo dos homens e um outro mundo”, [3] quando não responde ao pedido do rei de Tebas, é percebido como não querendo revelar a sua intuição divinatória. Édipo que procurava respostas para o estado de desamparo em que se encontrava o seu reinado depois da chegada da peste, diz a Tirésias: “Então tu, malvado dos malvados, tu que serias capaz de enfurecer uma rocha, não falarás?” [4]. O próprio Coro comenta esta afirmação, ao tentar conciliar Édipo e Tirésias:


A nós se nos afigura que as tuas palavras (de Tirésias) foram proferidas sob o império da cólera, mas também as tuas, Édipo.
E não é disso que carecemos, mas da melhor solução para o oráculo[5].

Na fala do Coro[6] percebemos que se pretende uma solução para o momento tenso que se apresenta ali. A atitude do Coro na obra comporta também uma pergunta, segundo Hölderlin, algo “que dá ao todo da tragédia seu equilíbrio, fazendo “adequadamente” ou convenientemente surgir seu sentido? [7] Édipo insiste buscando ouvir alguma verdade: “Ó Tirésias, que tudo conheces, o que foi revelado e o que é oculto. O que habita o céu e o que pisa a terra ! (...) Não nos recusarás, certamente, o presságio das aves ou outro caminho da profecia, se o possuis.” [8] E o rei pede chegando mesmo a forçar Tirésias a declarar os oráculos depois de tê-lo até insultado. Conferindo ao momento mais intensidade, Tirésias termina por declarar:


Acaso sabes de quem procedes? Pois, sem que o saibas, és um inimigo para os teus, tanto para os que já estão sob a terra, como para os que vivem sobre ela. Uma maldição de dois gumes, a de teu pai e a de tua mãe, te há-de arrastar para fora desta terra no seu terrível passo, a ti, que agora, vês bem e dentro em pouco só verás a treva. [9]

Lacan no Seminário A Ética comenta que Tirésias, tanto quanto Homero, sabia que só quem escapa às aparências pode alcançar a verdade. Lacan, aqui, faz relação com a ‘cegueira’ daquele que diante de um luto absoluto, como sabemos que é o de Édipo, consegue continuar e seguir buscando a chave de seu enigma. O desejo de desejar que Édipo experimenta é vivido de uma forma surpreendente, e diríamos, também, intensa. Cito:


Se ele se arranca do mundo pelo ato que consiste em cegar-se, é que somente aquele que escapa das aparências pode chegar à verdade. Os antigos sabiam disso – o grande Homero é cego, Tirésias também. [10]

Parece-nos que Sófocles constrói, nesta tragédia sobre a condição humana, uma espécie de ‘lucidez’ “que suspende a limitação da consciência normal (que depende de distinções determinadas)” [11]. O que a fábula ou o cenário trágico nos apresenta, então, diz de um sentimento de liberdade e de contradição do subjetivo e do objetivo que o “herói trágico é (como dirá também Hegel) ‘ao mesmo tempo culpado e inocente’, lutando contra o invencível, ou seja, lutando contra o destino que é o próprio responsável por sua falta,” [12] provocando uma derrota inelutável e necessária da qual ele só sairá “pela perda da própria liberdade” [13].

Os estudiosos desses mitos reconhecem tanto no texto da tragédia de Antígona quanto no de Édipo, o uso de aspectos importantes da linguagem e descobrem as relações e os não-ditos em “pólos extremos da piedade e da selvageria” [14] como parte de um mesmo mundo. Em Antígona, Sófocles deixa ver nos gestos e palavras da personagem “os deslizes desconcertantes das suas afirmações” [15]. Antígona passa, por exemplo, do argumento à imaginação. Às vezes, faz uso de uma argumentação impecável e a seguir desliza para afirmações provocantes.

E na errância, aonde Édipo se lançará, encontramos alguns outros pontos importantes. De fato Édipo, que antes vivia de forma segura, passa a mover-se nas trevas em direção ao (im)possível das certezas. Será nesse caráter do nosso herói, e no jogo de significantes de luz e treva, que podemos perceber o que Freud nos apresenta na reconstrução deste mito na psicanálise: a presença de um ‘saber’ que se constrói em tempos distintos da constituição de qualquer sujeito.

O inconsciente pisca e nos aponta, aos poucos, a direção que alerta alguma ‘verdade’ para cada e qualquer sujeito em análise, dentro de um caminho a desvendar. Podemos afirmar ainda que, quando lemos, inúmeras vezes, as tragédias de Édipo, sempre teremos a oportunidade de encontrar a complexidade e o insondável da natureza do homem, e um estado de desamparo no qual o sujeito apresenta seu não saber.

Philippe Lacoue-Labarthe, estudioso das traduções hölderlianas, reconhece em Antígona “a mais grega das tragédias” [16] no sentido do ‘mais lírico’, e também da obra onde Sófocles se mostra de fato “mais próximo de Píndaro“ [17]. Ele ainda comenta que a tradução feita por Hölderlin deixa o discurso dos gregos bem perto de nós, e não porque diga tudo. Especialmente, pelo que não diz (no sentido de que vai dizer de maneira diferente).

A queixa de Antígona surge como um lamento “com respeito a tudo o que da vida, lhe foi recusado” [18]. Com as considerações de Lacan observamos de onde Antígona fala; deste lugar de quem já perdeu a vida, mas também de onde pode vivê-la na forma do que já foi perdido. Lembramos que ela foi condenada a morrer aos poucos dentro de uma tumba de pedra, ou seja, enterrada viva.


Solange Rebuzzi. Entre os Ensaios estão textos publicados nos sites da Revista de Poesia e Cultura Sibila, e Revista Critério, ambas editadas em São Paulo.

Mais em solrebuzzi

Vida e poesia - Vinicius de Moraes

(Rio de Janeiro)

A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que não havia.

Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
- Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinacão estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Influências

Vinicius de Moraes - Imitação de Rilke

Alguém que me espia do fundo da noite
Com olhos imóveís brilhando na noite
Me quer.

Alguém que me espia do fundo da noite
(Mulher que me ama, perdida na noite?)
Me chama.

Alguém que me espia do fundo da noite
(És tu, Poesia, velando na noite?)
Me quer.

Alguém que me espia do fundo da noite
(Também chega a morte dos ermos da noite…)
Quem é?

Vinicius de Moraes



Rainer Maria Rilke (Praga,1875 - Valmont, Suíça, 1926), foi um importante escritor. Depois de poemas de gosto neo-romântico, recolheu o que escrevera entre 1899 e 1903 no volume Stunden-buch (Livro das horas), marcado pela reflexão mística.

Decisivo para seu amadurecimento artístico foi o convívio com Rodin, em Paris, de 1905 a 1906, quando abandonou a musicalidade vaga em favor de um maior senso da forma e de uma atenção ao contorno das coisas reais. Os poemas deste período, 1907 a 1908, apareceram em Neue Gedichte (Novos poemas). Até o início da I Guerra Mundial, Rilke viveu em Paris, viajando pela Europa e norte da África.

Suas célebres Duineser elegien (Elegias de Duíno), iniciadas e concluídas em 1923, deixam ver uma extrema sabedoria estético-filosófica no tratamento de temas essenciais da condição humana, como a morte, o amor e o tempo. Sua obra em prosa mais importante, iniciada em 1910, são Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge (Os cadernos de Malte Laurids Brigge). Rilke morou em Munique durante quase toda a I Guerra Mundial e em 1919 mudou-se definitivamente para Sierra (Suíça).

Sua obra exerceu grande influência sobre a literatura dos anos cinqüenta, incluindo-se a brasileira, e a poesia de Vinicius de Moraes não foi uma exceção.

Allegro - Vinicius de Moraes

Sente como vibra
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra

Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras

E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida

E as sombras se casam
Nos raios noturnos
Da lua perdida.

Oxford, 1939.
Vinicius de Moraes

O tempo nos parques - Vinicius de Moraes


O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques.
O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
A imobilidade anterior desse tempo no mundo
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
É o tempo nos parques.

Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes - Bilhete a Baudelaire

Poeta, um pouco à tua maneira
E para distrair o spleen
Que estou sentindo vir a mim
Em sua ronda costumeira

Folheando-te, reencontro a rara
Delícia de me deparar
Com tua sordidez preclara
No velha foto de Carjat

Que não revia desde o tempo
Em que te lia e te relia
A ti, a Verlaine, a Rimbaud...

Como passou depressa o tempo
Como mudou a poesia
Como teu rosto não mudou!


Los Angeles, 1947.
Vinicius de Moraes

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fellipe Cosme - Vozes Mudas

Meu livro de poesia e prosa poética "Vozes Mudas" sendo vendido na livraria nobel, do Floripa Shopping, em Florianópolis, por 15 reais.

A Smile To Remember - Charles Bukowski

we had goldfish and they circled around and around
in the bowl on the table near the heavy drapes
covering the picture window and
my mother, always smiling, wanting us all
to be happy, told me, 'be happy Henry!'
and she was right: it's better to be happy if you
can
but my father continued to beat her and me several times a week while
raging inside his 6-foot-two frame because he couldn't
understand what was attacking him from within.

my mother, poor fish,
wanting to be happy, beaten two or three times a
week, telling me to be happy: 'Henry, smile!
why don't you ever smile?'

and then she would smile, to show me how, and it was the
saddest smile I ever saw

one day the goldfish died, all five of them,
they floated on the water, on their sides, their
eyes still open,
and when my father got home he threw them to the cat
there on the kitchen floor and we watched as my mother
smiled


Charles Bukowski

Conversa de Livraria

Ontem, conversando com o dono de uma franquia de livraria aqui em Florianópolis, ele me disse o seguinte:
- Hoje em dia, os livros estão melhores. Antes não se escrevia muito bem. Escritores como Olavo Bilac, Oswald de Andrade, Drummond: escreviam de forma muita confusa. Hoje escreve-se muito melhor, de forma mais acessível.

Realmente, de forma bem mais acessível, bem mastigado, porque não temos mais tempo para pensar, temos apenas tempo para aceitar cópias de cópias - aceitar isso. Com pessoas assim, não há tempo a perder. Dei o fora de lá na hora. Faça o mesmo.

Tucker: The Man and His Dream

Esta história é interessante para vermos como um país consegue acabar com pessoas brilhantes fraudando documentos e destruindo grandes projetos. Tudo isso envolvido em interesses financeiros, protegendo poderosos industriais e ajudando-os a continuar vendendo suas tecnologias ultrapassadas interrompendo um boom tecnológico que se iniciaria na indústria automobilística norte-americana. norte-americana.

Great names





Quatro poemas pivianos - Roberto Piva

I

As mãos invisíveis dedilham a canção sinistra
vibrando as fibras nervosas da medula
Os dentes mastigam o sem fim de peripaques nostálgicos
enquanto o mistério corre pela rua em chamas.

Aonde andará o poeta de pijama que escorrega e cai,
enquanto distraído sonha um mundo de estrelas?
Já não há céu, nem solo firme. Silencie-me! Silencie-me!
Sigo as labaredas memoráveis dos dias de luto e melancolia.

Quero a forma perfeita, o beijo, o cheiro do Apolo ruivo.
Sei da impossibilidade das horas, da complementaridade ilusória.
Olho o monte de esterco apodrecendo na vidraça entreaberta.
Janelas, penhascos, arranhásseis e corpos voadores de pedra.

Se a noite persegue minha vida, deposito monstros no aquário.
Os peixes caminham no asfalto e as mulheres usam gravatas.
Minha alma, meu desejo, minha imobilidade. Apenas eu!
Danço a quimera dos solitários e o presságio dos carecas.

Um poema, um segmento refratário. Não sei de mim.
As idéias são espasmos, e as palavras, coisa inútil.
Seria senil e insano se acreditasse no amanhã.
Vivo esse segundo que se arrasta, devorando-me.


II

O estrangeiro da legião de insetos
arrancou o grito de cólera e loucura
da boca arreganhada, não percebida,
do paranóico que mora nos ciclones

A bailarina, uma mulher pálida,
engole o último pedaço de vidro
arrebentado com a explosão atômica
de meus sonhos avulsos transtornados.

O erotismo atrapalhado do anão
que não mais se agüenta neste intervalo
de memórias e areias, noite e chamas.
Diminuindo cada vez mais, bactéria.

O uivo caminhando sobre a ponte imóvel.
O castelo e o muro dedilhados no quadro azul.
Sinto a introdução e o posfácio deste rio
que golpeia as paredes com mãos nuas.

O mínimo. O minúsculo. O quase nada.
Dedilhai as últimas notas vagas
que recordam a imagem deformada
do psicótico que caminha sobre o fio dental.


III

O corvo de pelúcia esfaqueado pelas costas
traz os olhos esbugalhados mirando a parede alada.
As estantes, as páginas comidas por traças,
adormecem na noite de meus surtos compulsivos.

Olhos imensos de um desenho de carvão negro
mãos em garras batendo teclas ideais.
O cheiro de perfume velho e asfixiante.
A teia de aranha presa entre os ossos mortos.

Lá fora, homens dirigem seus carros vagarosamente
seguindo as pernas nuas das mulheres prostitutas.
Enquanto corpos se misturam na madrugada convulsiva
de salões apertados, iluminados por rosas ensangüentadas.

Meus passos, meus ruídos, aquele rosto assimétrico.
Triunfa a idéia do parto cesariano sem anestesia.
A dançarina com suas vestes invisíveis
caminha no jardim de lâminas e gafanhotos.

Escreverei dez mil poemas ao poeta necropolitano
sem esperanças de ter meus sonhos confundidos
com o delírio e o êxtase do pai xamânico.
Sou urbano, sou quase cético. Morfina e sonhos.


IV

Dêem-me um anestésico. A vida dói e arde.
Não sei controlar meus impulsos demoníacos.
Não acredito em forças de outro mundo.
Sou eu, meus versos e o perigo das frações.

Arranco minhas víceras poéticas do ostracismo.
Trezentos dias e cinqüenta noites marianas.
O caracol de meus cabelos caídos no chão de espelhos.
O sangue e os olhos transformados em areia cinza.

A árvore sem galhos escondem os meninos saltimbancos.
Foi-se o tempo em que se acreditava nas histórias ditas.
Sempre começo pelo meio e jamais olho para os lados,
enquanto rio e sufoco meu próprio rosto turvo.

Minha maquiagem, os primeiros tombos das gaivotas.
Atiro farpas e pragas para antigos e mórbidos desejos.
A torre delirante de um neocórtex em latência,
ou o pedúnculo, ou o miocárdio, ou o octocentésimo.

Quatro poemas nos espaços angustiados do processo.
Sou eu? Sou ateu? De que me valem as respostas?!
As idéias me levam ao eterno estado de castidade
entrelaçado neste puro estado de sonho e malogro.

Roberto Piva

ANTINOUS - Roberto Piva

(movimento de árvores)

são questões

terça-feira eu prefiro você bem

louco

minha palavra & nada que você acredita

poderá acontecer: outras olhos injetados Hegel

durma com suas violetas do subúrbio

a cidade tosse como

um índio com febre

São Paulo acorda em suas coxas

docemente

banho quente com vapor

Em espiral flocos de

samambaias eróticas

assim que você espreguiçar eu estarei

sangrando

Baudelaire sangrou na ponte negra do Sena.

molécula procurando a brecha do

universo & suas trezentas flores

Assim é a lucidez,

O swing das Fleurs du Mal.

Completa tortura roendo a realidade

&

l´ limmense gouffre.

todas as paixões/ convulsões no

espelho. Baudelaire & ses fatigues

rumo á pálida estrela.


Roberto Piva

Roberto Piva - "e o poeta inicia a sua prece..."

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quote for the weekend

Less is more.

Poesia dissertada por Ana Carolina

"Heaven"—is what I cannot reach! - Emily Dickinson

"Heaven"—is what I cannot reach!

239

"Heaven"—is what I cannot reach!
The Apple on the Tree—
Provided it do hopeless—hang—
That—"Heaven" is—to Me!

The Color, on the Cruising Cloud—
The interdicted Land—
Behind the Hill—the House behind—
There—Paradise—is found!

Her teasing Purples—Afternoons—
The credulous—decoy—
Enamored—of the Conjuror—
That spurned us—Yesterday!


Emily Dickinson

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

William S. Burroughs - A Thanksgiving Prayer



For John Dillinger
In hope he is still alive
Thanksgiving Day, November 28, 1986

Thanks for the wild turkey and the Passenger Pigeons, destined to be shit out through wholesome American guts

thanks for a Continent to despoil and poison –

thanks for Indians to provide a modicum of challenge and danger –

thanks for vast herds of bison to kill and skin, leaving the carcass to rot –

thanks for bounties on wolves and coyotes –

thanks for the AMERICAN DREAM to vulgarize and falsify until the bare lies shine through –

thanks for the KKK, for nigger-killing lawmen feeling their notches, for decent church-going women with their mean, pinched, bitter, evil faces –

thanks for "Kill a Queer for Christ" stickers –

thanks for laboratory AIDS –

thanks for Prohibition and the War Against Drugs –

thanks for a country where nobody is allowed to mind his own business –

thanks for a nation of finks – yes, thanks for all the memories... all right, let's see your arms... you always were a headache and you always were a bore –

thanks for the last and greatest betrayal of the last and greatest of human dreams.

William S. Burroughs

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Woman Waits For Me - Walt Whitman

A WOMAN waits for me--she contains all, nothing is lacking,
Yet all were lacking, if sex were lacking, or if the moisture of the
right man were lacking.

Sex contains all,
Bodies, Souls, meanings, proofs, purities, delicacies, results,
promulgations,
Songs, commands, health, pride, the maternal mystery, the seminal
milk;
All hopes, benefactions, bestowals,
All the passions, loves, beauties, delights of the earth,
All the governments, judges, gods, follow'd persons of the earth,
These are contain'd in sex, as parts of itself, and justifications of
itself.

Without shame the man I like knows and avows the deliciousness of his
sex, 10
Without shame the woman I like knows and avows hers.

Now I will dismiss myself from impassive women,
I will go stay with her who waits for me, and with those women that
are warm-blooded and sufficient for me;
I see that they understand me, and do not deny me;
I see that they are worthy of me--I will be the robust husband of
those women.

They are not one jot less than I am,
They are tann'd in the face by shining suns and blowing winds,
Their flesh has the old divine suppleness and strength,
They know how to swim, row, ride, wrestle, shoot, run, strike,
retreat, advance, resist, defend themselves,
They are ultimate in their own right--they are calm, clear, well-
possess'd of themselves. 20

I draw you close to me, you women!
I cannot let you go, I would do you good,
I am for you, and you are for me, not only for our own sake, but for
others' sakes;
Envelop'd in you sleep greater heroes and bards,
They refuse to awake at the touch of any man but me.

It is I, you women--I make my way,
I am stern, acrid, large, undissuadable--but I love you,
I do not hurt you any more than is necessary for you,
I pour the stuff to start sons and daughters fit for These States--I
press with slow rude muscle,
I brace myself effectually--I listen to no entreaties, 30
I dare not withdraw till I deposit what has so long accumulated
within me.

Through you I drain the pent-up rivers of myself,
In you I wrap a thousand onward years,
On you I graft the grafts of the best-beloved of me and America,
The drops I distil upon you shall grow fierce and athletic girls, new
artists, musicians, and singers,
The babes I beget upon you are to beget babes in their turn,
I shall demand perfect men and women out of my love-spendings,
I shall expect them to interpenetrate with others, as I and you
interpenetrate now,
I shall count on the fruits of the gushing showers of them, as I
count on the fruits of the gushing showers I give now,
I shall look for loving crops from the birth, life, death,
immortality, I plant so lovingly now. 40


Walt Whitman

Mais Noruega

Mais sobre Noruega:

Noruega x Brasil (Sistema de Trânsito)

Matéria do Fantástico, sobre sistema inteligente de trânsito norueguês, inspiração para cidades brasileiras, como Florianópolis.

Noruega

Hoje, sonhei claramente que estava na Noruega a passeio. Deu vontade de visitar essas paisagens.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sociedade dos poetas mortos





A Bird Came Down - Emily Dickinson

A bird came down the walk:
He did not know I saw;
He bit an angle-worm in halves
And ate the fellow, raw.

And then he drank a dew
From a convenient grass,
And then hopped sidewise to the wall
To let a beetle pass.

He glanced with rapid eyes
That hurried all abroad,--
They looked like frightened beads, I thought;
He stirred his velvet head

Like one in danger; cautious,
I offered him a crumb,
And he unrolled his feathers
And rowed him softer home

Than oars divide the ocean,
Too silver for a seam,
Or butterflies, off banks of noon,
Leap, splashless, as they swim.


Emily Dickinson

A Book - Emily Dickinson

There is no frigate like a book
To take us lands away,
Nor any coursers like a page
Of prancing poetry.
This traverse may the poorest take
Without oppress of toll;
How frugal is the chariot
That bears a human soul!

Emily Dickinson

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Jack Karouac - How to Meditate

-lights out-
fall, hands a-clasped, into instantaneous
ecstasy like a shot of heroin or morphine,
the gland inside of my brain discharging
the good glad fluid (Holy Fluid) as
i hap-down and hold all my body parts
down to a deadstop trance-Healing
all my sicknesses-erasing all-not
even the shred of a 'I-hope-you' or a
Loony Balloon left in it, but the mind
blank, serene, thoughtless. When a thought
comes a-springing from afar with its held-
forth figure of image, you spoof it out,
you spuff it off, you fake it, and
it fades, and thought never comes-and
with joy you realize for the first time
'thinking's just like not thinking-
So I don't have to think
any
more'


Jack Kerouac

Soneto 58 Shakespeare

That god forbid, that made me first your slave,
I should in thought control your times of pleasure,
Or at your hand th' account of hours to crave,
Being your vassal bound to stay your leisure!
O, let me suffer, being at your beck,
Th' imprisoned absence of your liberty,
And patience tame to sufferance, bide each check,
Without accusing you of injury.
Be where you list, your charter is so strong
That you your self may privilage your time
To what you will; to you it doth belong
Your self to pardon of self-doing crime.
I am to wait, though waiting so be hell,
Not blame your pleasure, be it ill or well.

Na tradução de Thereza Christina Rocque da Motta,

Que Deus me perdoe, por me tornar teu escravo,
Que eu deva pensar em velar tuas horas de prazer,
Ou para ti contar os momentos de ansiedade,
Sendo teu vassalo disposto a estar à tua mercê.
Ó deixa-me sofrer, sob tua vista,
A ausência aprisionada de tua liberdade,
E domada pela paciência para sofrer a cada vez
Sem te acusar de me injuriares.
Estejas onde estiveres, teu jugo é tão forte,
Que podes privilegiar teu tempo
Para o que quiseres; a ti somente cabe
Perdoar-te por teus próprios crimes.
Devo aguardar, embora esperarseja o inferno,
Sem culpar teu prazer, seja ele o mal ou o bem.

William Shakespeare

A Winter Dream - Rimbaud (English)

In winter we’ll travel in a little pink carriage
With cushions of blue.
We’ll be fine. A nest of mad kisses waits
In each corner too.

You’ll shut your eyes, not to see, through the glass,
Grimacing shadows of evening,
Those snarling monsters, a crowd going past
Of black wolves and black demons.

Then you’ll feel your cheek tickled quite hard…
A little kiss, like a maddened spider,
Will run over your neck…

And you’ll say: “Catch it!” bowing your head,
– And we’ll take our time finding that creature
– Who travels so far…


Arthur Rimbaud

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Frases Dalai Lama

Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.

Pouco importa o julgamento dos outros.Os seres são tão contraditórios que é impossivel atender às suas demandas, satisfazê-los. Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro...

Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente.

A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância.

Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez.

Oasis - Some Might Say

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Dream Of Death - William Butler Yeats

I DREAMED that one had died in a strange place
Near no accustomed hand,
And they had nailed the boards above her face,
The peasants of that land,
Wondering to lay her in that solitude,
And raised above her mound
A cross they had made out of two bits of wood,
And planted cypress round;
And left her to the indifferent stars above
Until I carved these words:
i{She was more beautiful than thy first love,}
i{But now lies under boards.}


William Butler Yeats

Eternity - William Blake

He who binds to himself a joy
Does the winged life destroy;
But he who kisses the joy as it flies
Lives in eternity's sun rise.

William Blake

A Summer’s Dream - Elizabeth Bishop



To the sagging wharf
few ships could come.
The population numbered
two giants, an idiot, a dwarf,

a gentle storekeeper
asleep behind his counter,
and our kind landlady—
the dwarf was her dressmaker.

The idiot could be beguiled
by picking blackberries,
but then threw them away.
The shrunken seamstress smiled.

By the sea, lying
blue as a mackerel,
our boarding house was streaked
as though it had been crying.

Extraordinary geraniums
crowded the front windows,
the floors glittered with
assorted linoleums.

Every night we listened
for a horned owl.
In the horned lamp flame,
the wallpaper glistened.

The giant with the stammer
was the landlady's son,
grumbling on the stairs
over an old grammar.

He was morose,
but she was cheerful.
The bedroom was cold,
the feather bed close.

We were awakened in the dark by
the somnambulist brook
nearing the sea,
still dreaming audibly.


Elizabeth Bishop